Receita para lavar roupa suja


Mergulhar a palavra suja em água sanitária depois de dois dias de molho, quarar ao sol do meio dia.
Algumas palavras quando alvejadas ao sol adquirem consistência de certeza.
Por exemplo, a palavra vida.
Existem outras, e a palavra amor é uma delas,
que são muito encardidas pelo uso, o que recomenda aguar e bater insistentemente na pedra, depois enxaguar em água corrente.
São poucas as que resistem a esses cuidados, mas existem aquelas.
Dizem que limão e sal tiram sujeira difícil, mas nada.
Toda tentativa de lavar piedade foi sempre em vão.
Agora nunca vi palavra tão suja como perda.
Perda e morte na medida em que são alvejadas soltam um líquido corrosivo, que atende pelo nome de argura, que é capaz de esvaziar o vigor da língua.
O aconselhado nesse caso é mantê-la sempre de molho em um amaciante de boa qualidade.
Agora, se o que você quer é somente aliviar as palavras do uso diário, pode usar simplesmente sabão em pó e máquina de lavar.
O perigo neste caso é misturar palavras que mancham no contato umas com as outras.
Culpa, por exemplo, a culpa mancha tudo que encontra e deve ser sempre alvejada sozinha.
Outra mistura pouco aconselhada é amizade e desejo,
já que desejo, sendo uma palavra intensa, quase agressiva,
pode o que não é inevitável, esgarçar a força delicada da palavra amizade.
Já a palavra força cai bem em qualquer mistura.
Outro cuidado importante é não lavar demais as palavras sob o risco de perderem o sentido.
A sujeirinha cotidiana quando não é excessiva, produz uma oleosidade que dá vigor aos sons.
Muito importante na arte de lavar palavras é saber reconhecer uma palavra limpa.
Conviva com a palavra durante alguns dias.
Deixe que se misture em seus gestos, que passeie pela expressão dos seus sentidos.
À noite, permita que se deite não a seu lado, mas sobre seu corpo.
Enquanto você dorme, a palavra, plantada em sua carne, prolifera em toda sua possibilidade.
Se puder suportar essa convivência até não mais perceber a presença dela, então você tem uma palavra limpa.
Uma palavra limpa é uma palavra possível.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008


Hoje eu posto uma entrevista maravilhosa, que vai de acordo com muito do que faz sentido pra mim na vida.

" A revista ’Isto É’ publicou esta entrevista de Camilo Vannuchi.
O entrevistado é Roberto Shinyashiki. Vale a pena ler.

Em "Heróis de Verdade", o escritor combate a supervalorização das aparências,
diz que falta ao Brasil competência, e não auto-estima.

Isto É - Quem são os heróis de verdade?
Roberto Shinyashiki - Nossa sociedade ensina que, para ser uma pessoa de sucesso,
você precisa ser diretor de uma multinacional, ter carro importado, viajar de primeira classe.
O mundo define que poucas pessoas deram certo. Isso é uma loucura. Para cada diretor de empresa,
há milhares de funcionários que não chegaram a ser gerentes. E essas pessoas são tratadas como uma multidão de fracassados.
Quando olha para a própria vida, a maioria se convence de que não valeu a pena porque não conseguiu ter o carro nem a casa maravilhosa.
Para mim, é importante que o filho da moça que trabalha na minha casa possa se orgulhar da mãe.
O mundo precisa de pessoas mais simples e transparentes.
Heróis de verdade são aqueles que trabalham para realizar seus projetos de vida, e não para impressionar os outros.
São pessoas que sabem pedir desculpas e admitir que erraram.

Isto É - O sr. citaria exemplos?
Shinyashiki - Quando eu nasci, minha mãe era empregada doméstica e meu pai, órfão aos sete anos, empregado em uma farmácia.
Morávamos em um bairro miserável em São Vicente (SP) chamado Vila Margarida. Eles são meus heróis.
Conseguiram criar seus quatro filhos, que hoje estão bem. Acho lindo quando o Cafu põe uma camisa em que está escrito "100% Jardim Irene".
É uma pena que a maior parte das pessoas esconda suas raízes. O resultado é um mundo vítima da depressão, doença que acomete hoje 10% da população americana.
Em países como Japão, Suécia e Noruega, há mais suicídio do que homicídio.
Por que tanta gente se mata?
Parte da culpa está na depressão das aparências, que acomete a mulher que, embora não ame mais o marido, mantém o casamento, ou o homem que passa décadas em um emprego que não o faz se sentir realizado,
mas o faz se sentir seguro.

Isto É - Qual o resultado disso?
Shinyashiki - Paranóia e depressão cada vez mais precoces. O pai quer preparar o filho para o futuro e mete o menino em aulas de inglês, informática e mandarim.
Aos nove ou dez anos a depressão aparece. A única coisa que prepara uma criança para o futuro é ela poder ser criança.
Com a desculpa de prepará-los para o futuro, os malucos dos pais estão roubando a infância dos filhos.
Essas crianças serão adultos inseguros e terão discursos hipócritas. Aliás, a hipocrisia já predomina no mundo corporativo.

Isto É - Por quê?
Shinyashiki - O mundo corporativo virou um mundo de faz-de-conta, a começar pelo processo de recrutamento.
É contratado o sujeito com mais marketing pessoal. As corporações valorizam mais a auto-estima do que a competência.
Sou presidente da Editora Gente e entrevistei uma moça que respondia todas as minhas perguntas com uma ou duas palavras.
Disse que ela não parecia demonstrar interesse. Ela me respondeu estar muito interessada, mas, como falava pouco,
pediu que eu pesasse o desempenho dela, e não a conversa.Até porque ela era candidata a um emprego na contabilidade, e não de relações públicas.
Contratei-a na hora. Num processo clássico de seleção, ela não passaria da primeira etapa.

Isto É - Há um script estabelecido?
Shinyashiki - Sim. Quer ver uma pergunta estúpida feita por um Presidente de multinacional no programa O Aprendiz?
"Qual é seu defeito?"
Todos respondem que o defeito é não pensar na vida pessoal:
"Eu mergulho de cabeça na empresa. Preciso aprender a relaxar."
É exatamente o que o Chefe quer escutar.
Por que você acha que nunca alguém respondeu ser desorganizado ou esquecido?
É contratado quem é bom em conversar, em fingir.
Da mesma forma, na maioria das vezes, são promovidos aqueles que fazem o jogo do poder.
O vice-presidente de uma as maiores empresas do planeta me disse: "Sabe, Roberto, ninguém chega à vice-presidência sem mentir".
Isso significa que quem fala a verdade não chega a diretor?

Isto É - Temos um modelo de gestão que premia pessoas mal preparadas?
Shinyashiki - Ele cria pessoas arrogantes, que não têm a humildade de se preparar, que não têm capacidade de ler um livro até o fim
e não se preocupam com o conhecimento. Muitas equipes precisam de motivação, mas o maior problema no Brasil é competência.
Cuidado com os burros motivados. Há muita gente motivada fazendo besteira.
Não adianta você assumir uma função para a qual não está preparado. Fui cirurgião e me orgulho de nunca um paciente ter morrido na minha mão.
Mas tenho a humildade de reconhecer que isso nunca aconteceu graças a meus chefes, que foram sábios em não me dar um caso para o qual eu não estava preparado.
Hoje, o garoto sai da faculdade achando que sabe fazer uma neurocirurgia. O Brasil se tornou incompetente e não acordou para isso.

Isto É - Está sobrando auto-estima?
Shinyashiki - Falta às pessoas a verdadeira auto-estima. Se eu preciso que os outros digam que sou o melhor, minha auto-estima está baixa.
Antes, o ter conseguia substituir o ser. O cara mal-educado dava uma gorjeta alta para conquistar o respeito do garçom.
Hoje, como as pessoas não conseguem nem ser nem ter, o objetivo de vida se tornou parecer.
As pessoas parecem que sabem, parece que fazem, parece que acreditam.
E poucos são humildes para confessar que não sabem.
Há muitas mulheres solitárias no Brasil que preferem dizer que é melhor assim.
Embora a auto-estima esteja baixa, fazem pose de que está tudo bem.

Isto É - Por que nos deixamos levar por essa necessidade de sermos perfeitos em tudo
e de valorizar a aparência?
Shinyashiki - Isso vem do vazio que sentimos. A gente continua valorizando os heróis.
Quem vai salvar o Brasil? O Lula.
Quem vai salvar o time? O técnico.
Quem vai salvar meu casamento? O terapeuta.
O problema é que eles não vão salvar nada!
Tive um professor de filosofia que dizia:
"Quando você quiser entender a essência do ser humano, imagine a rainha Elizabeth com uma crise de diarréia
durante um jantar no Palácio de Buckingham".
Pode parecer incrível, mas a rainha Elizabeth também tem diarréia.
Ela certamente já teve dor de dente, já chorou de tristeza, já fez coisas que não deram certo.
A gente tem de parar de procurar super-heróis. Porque se o super-herói não segura a onda,
todo mundo o considera um fracassado.

Isto É - O conceito muda quando a expectativa não se comprova?
Shinyashiki - Exatamente. A gente não é super-herói nem superfracassado.
A gente acerta, erra, tem dias de alegria e dias de tristeza. Não há nada de errado nisso.
Hoje, as pessoas estão questionando o Lula em parte porque acreditavam que ele fosse mudar suas vidas e se decepcionaram.
A crise será positiva se elas entenderem que a responsabilidade pela própria vida é delas.

Isto É - Muitas pessoas acham que é fácil para o Roberto Shinyashiki dizer essas coisas,
já que ele é bem-sucedido.
O senhor tem defeitos?
Shinyashiki - Tenho minhas angústias e inseguranças. Mas aceitá-las faz minha vida fluir mais facilmente.
Há várias coisas que eu queria e não consegui. Jogar na Seleção Brasileira, tocar nos Beatles (risos).
Meu filho mais velho nasceu com uma doença cerebral e hoje tem 25 anos.
Com uma criança especial, eu aprendi que ou eu a amo do jeito que ela é ou vou massacrá-la o resto da vida para ser o filho que eu gostaria que fosse.
Quando olho para trás, vejo que 60% das coisas que fiz deram certo.
O resto foram apostas e erros. Dia desses apostei na edição de um livro que não deu certo.
Um amigão me perguntou: "Quem decidiu publicar esse livro?"
Eu respondi que tinha sido eu. O erro foi meu. Não preciso mentir.

Isto É - Como as pessoas podem se livrar dessa tirania da aparência?
Shinyashiki - O primeiro passo
é pensar nas coisas que fazem as pessoas cederem a essa tirania e tentar evitá-las.
São três fraquezas.
A primeira é precisar de aplauso,
a segunda é precisar se sentir amada
e a terceira é buscar segurança.
Os Beatles foram recusados por gravadoras e nem por isso desistiram.
Hoje, o erro das escolas de música é definir o estilo do aluno.
Elas ensinam a tocar como o Steve Vai, o B. B. King ou o Keith Richards.
Os MBAs têm o mesmo problema: ensinam os alunos a serem covers do Bill Gates.
O que as escolas deveriam fazer é ajudar o aluno a desenvolver suas próprias potencialidades.

Isto É - Muitas pessoas têm buscado sonhos que não são seus?
Shinyashiki - A sociedade quer definir o que é certo. São quatro loucuras da sociedade.
A primeira é instituir que todos têm de ter sucesso, como se ele não tivesse significados individuais.
A segunda loucura é: Você tem de estar feliz todos os dias.
A terceira é: Você tem que comprar tudo o que puder.
O resultado é esse consumismo absurdo.
Por fim, a quarta loucura: Você tem de fazer as coisas do jeito certo.
Jeito certo não existe. Não há um caminho único para se fazer as coisas.
As metas são interessantes para o sucesso, mas não para a felicidade.
Felicidade não é uma meta, mas um estado de espírito.
Tem gente que diz que não será feliz enquanto não casar, enquanto outros se dizem infelizes justamente por causa do casamento.
Você pode ser feliz tomando sorvete, ficando em casa com a família ou com amigos verdadeiros,
levando os filhos para brincar ou indo a praia ou ao cinema. Quando era recém-formado em São Paulo,
trabalhei em um hospital de pacientes terminais. Todos os dias morriam nove ou dez pacientes.
Eu sempre procurei conversar com eles na hora da morte. A maior parte pega o médico pela camisa e diz:
"Doutor, não me deixe morrer. Eu me sacrifiquei a vida inteira, agora eu quero aproveitá-la e ser feliz".
Eu sentia uma dor enorme por não poder fazer nada. Ali eu aprendi que a felicidade é feita de coisas pequenas.
Ninguém na hora da morte diz se arrepender por não ter aplicado o dinheiro em imóveis ou ações, mas sim de ter esperado muito tempo ou perdido várias oportunidades para aproveitar a vida."
PONTO PRA ELE!

Obrigada Dr. Roberto!

segunda-feira, 8 de setembro de 2008


Então, há pelo menos três eleições seguidas eu não voto, alguns podem dizer que não é certo abrir mão desse direito, outros que estou sendo conivente, enfim blá, blá, blá... o fato é que eu não consigo ACREDITAR no que dizem e quando chega o ano eleitoral em certas ocasiões - salvo, pela oportunidade de alguns que precisam de dinheiro conseguirem um trabalho mesmo que temporário- me dá vontade de vomitar com a sujeira, poluição visual, sonora, a invasão nos sinais pra panfletar, colar adesivo, affffffffff tenho verdadeira aversão por esse tipo de coisa, até por que não é assim que se ganha voto, pelo menos não o MEU!
Nessa contra-mão li um artigo que me chamou atenção, foi escrito por João Baltar freire a sua posição quanto a essa vergonha que muitos candidatos estão envolvidos. Posição firme de quem, sem concessões mesmo que a prejuízo de candidatos do seu próprio partido, busca a verdade, pois é,ganhou o meu voto, depois de três eleições vou sair da minha casa e votar, talvez um voto não faça diferença, mas é o MEU VOTO e eu correta ou não, abrindo mão ou não, jamais darei senão acreditar.

Segue entrevista

Caros Amigos e Amigas:

Gravei minha primeira participação no guia eleitoral de rádio falando da denúncia de irregularidades na Câmara Municipal. Pedi ao eleitor que não renove o mandato de quem não conseguir provar que tem probidade para o cargo.

Foi com surpresa e indignação que recebi a notícia de que os mesmos vereadores pretendem não só tirar do ar minha participação como me punir judicialmente.

Não inventei nada, repito, apenas citei o que foi fartamente documentado e divulgado.

Não tenho nada pessoal contra nenhum vereador, não citei nomes, e alguns deles como Daniel Coelho, Priscila Krause e a ex vereadora Luciana Azevedo comprovaram não ter levado vantagens pessoais.

Outros apenas devolveram o dinheiro, o que já é um gesto na tentativa de pedir desculpas.

Continuarei a defender transparência com os gastos públicos e o fim da verba de gabinete, proposta que lancei na campanha de 2004.

Conto com apoio de todos vocês para continuar essa luta.

Abraço

João Baltar Freire

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Para Marta


Se com flores se fizeram revoluções
que linda revolução daria este canteiro!

Quando o clarim do sol toca a matinas
ei-las que emergem do noturno sono
e as brandas, tenras hastes se perfilam.
Estão fardadas de verde clorofila,
botões vermelhos, faixas amarelas,
penachos brancos que se balanceiam
em mesuras que a aragem determina.
É do regulamento ser viçoso
quando a seiva crepita nas nervuras
e frenética ascende aos altos vértices.

São flores e, como flores, abrem corolas
na memória dos homens.

Recorda o homem que no berço adormecia,
epiderme de flor num sorriso de flor,
e que entre flores correu quando era infante,
ébrio de cheiros,
abrindo os olhos grandes como flores.
Depois, a flor que ela prendeu entre os cabelos,
rede de borboletas, armadilha de ungüentos,
o amor à flor dos lábios,
o amor dos lábios desdobrado em flor,
a flor na emboscada, comprometida e ingênua,
colaborante e alheia,
a flor no seu canteiro à espera que a exaltem,
que em respeito a violem
e em sagrado a venerem.

Flores estupefacientes, droga dos olhos, vício dos sentidos.

Ai flores, ai flores das verdes hastes!
A César o que é de César. Às flores o que é das flores.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Palavra Limpa



Muito importante na arte de lavar palavras é saber reconhecer uma palavra limpa.
Conviva com a palavra durante alguns dias.
Deixe que se misture em seus gestos, que passeie pela expressão dos seus sentidos.
À noite, permita que se deite não a seu lado, mas sobre seu corpo.
Enquanto você dorme, a palavra, plantada em sua carne, prolifera em toda sua possibilidade.
Se puder suportar essa convivência até não mais perceber a presença dela, então você tem uma palavra limpa.
Uma palavra limpa é uma palavra possível.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

A hora de partir não coincide com o horário do trem...

Esse Blog foi feito pra lavar, e como dizem por aí as águas lavam e levam,talvez por isso as lágrimas sejam como água...
Há muito queria ter postado algo sobre vc, mas toda vez que começava a escrever travava, ainda não consegui nem apagar da agenda do celular o teu número, será que no céu tem telefone???
Não consegui escrever mas li um poema e vou reproduzir aqui, pois é uma grande parte de tudo o que gostaria de dizer, de dizer e escutar ao fundo...
..Vaitimbora
Isadora
Vaitimbora
Tu é mulé de Xangô...





Na próxima vez em que encontrar um poeta (Urariano Mota)

Na próxima vez em que encontrar um poeta, olhe-o por inteiro. Não lhe pergunte por que ele faltou a compromissos assumidos antes com você. Ele tem lá suas razões. Ele pode ter faltado ao encontro por algumas razões primárias, básicas, simples, como ganhar dinheiro para beber, comer, pagar contas e aluguel. Ele pode ter faltado por essas razões que todos alheios à poesia pensamos que os poetas não têm, não podem e nem devem ter. Ele pode ter faltado ao encontro por razões até menos primárias. Como, por exemplo, um encanto súbito pelos olhos de uma jovem. Um copo de cerveja em uma conversa tão boa quanto inadiável. Ou até mesmo, imagine, por estar amargando uma dor por não conseguir aquela forma sonhada para um poema. Por razões, em suma, estúpidas, idiotas, imbecis, que pessoas honrosas, sérias, práticas, desprezam porque não aparecem nas páginas do guinness, não geram notícias, nem fazem renda no fim do mês.

Na próxima vez em que encontrar um poeta, você pode no máximo sentir-se um igual a ele. Igual a um homem como somente outro homem pode ser. Por isso olhe-o bem com atenção. Você está diante de um espetáculo raro, talvez único, insuperável. Você está diante de um criador que antes de justificar um lugar no céu, justifica um lugar junto aos malditos. Os mendigos, os párias, a quem ele se assemelha muitas vezes pelo estado em que se encontra. Os santos, os iluminados, de quem muitas vezes ele se aproxima pelas realidades que descobre. Os demônios, os diabos, os senhores das luzes dos infernos a quem muitas vezes eles se avizinham pela vida que levam. Os até mesmo os descaídos, os homens caídos em desgraça pela fraqueza, de quem eles se aproximam por empatia e semelhança. Na próxima vez em que encontrar um poeta, preste muita atenção, porque você está diante de uma soma de humanidades.

É claro que me refiro aos poetas que se realizam pela poesia. É claro que não me refiro aos poetas, diria melhor, aos artistas – de uma forma distinta de arte, mas artistas - que se realizam na vida pela adulação, pela gordura pegajosa, frouxa e falsa do elogio fácil, que é ticket e bilhete para o mercado. É claro que não me refiro aos poetas alpinistas, dedicados ao gênero de arte que sempre gera recompensa, recompensa que é alheia à poesia, mas é gêmea do sucesso. É claro que não me refiro aos poetas que galgam os postos admirados pelo bom burguês. Eu me refiro a poetas assim:

“Vamos continuar comendo porcarias
Fodendo as marias, bebendo excreções
Fazendo mais josés que nos puxarão os pés”

É claro que me refiro a poetas à feição de um homem alto, negro e magro. Um homem que fala manso e baixo. Que ri, que sorri com dentes brancos em queixo descarnado. Um homem que se embriaga e não tropeça em público. Melhor, tropeça também, mas, malandro, faz do tropeço um gingado de capoeira, como se desse um novo e surpreendente salto de acrobata. Um homem de gosto tão fino que desenha as próprias roupas. Que poderia ser autor de grife. Mas não, que preferiu desenhar quando interpretava os seus petardos. As suas bombas incendiárias de inteligência.

“Pensar dói, pensar dói, pensar dói...”

Quem não ouviu as suas palavras, a repetir versos como uma lâmina que fere em recital, como estas:

“Onze horas,
onze anos de idade,
um botijão de gás
asfixia a criança
que sobe, ligeira, a ladeira
e à força das gravidades
não poderá mais crescer
sete horas,
setecentas cabecinhas
dentro do ônibus sagrado
Rezam sete ave-marias
De sete em sete segundos
E à força das gravidades
Não poderão mais subir
Meia-noite
Brasil do ano dois mil
Explode em artifícios
Camufla o novo holocausto
Sacrifica ao deus-bezerro
E à força das gravidades
Muito sangue há de correr
Sim, nós temos super-heróis
Só não estão na TV
Nem nas áreas de lazer
Em qualquer dificuldade
Em caso de overdose
E à força das gravidades
Chamem o Batmam!”.

Quem não ouviu isso da sua boca, não sabe nem conhece ainda a fruição da poesia que é música. Como um gozo musical da inteligência. Por isso digo, enfim.

Da próxima vez em que encontrar um poeta como França, o genial França, diga o quanto ele é importante. Diga-lhe o quanto ele é vital. Aperte-lhe a mão com força. Abrace-o calorosamente. Não tema ser ridículo. Não tema nem mesmo as lágrimas. Diga-lhe que você é feliz por ter a sorte de viver o dia e as horas em que ele vive. Diga e fale bem alto o que sente, para que você não procure depois mais uma estrela no céu. Mais uma inútil, compensatória estrela no céu. Fale agora. Diga o quanto o respeita agora. Você pode nunca mais ter outra oportunidade.

quinta-feira, 22 de maio de 2008


Então,entre tantas coisas que acontecem no nosso País, violência,falta de dinheiro, de emprego, de comida,saúde pública vergonhosa, parlamentares corruptos e mais e mais. É natural que a população fique desacreditada e procure meios ou pessoas a quem depositar sua fé, o que não é natural é algumas dessas pessoas tripudiar em cima da fé e da ingenuidade das outras. Veja o cartaz.

sábado, 17 de maio de 2008

FIM DO 13º APROVADO NA CÂMARA


Fim do 13º já foi aprovado na Câmara

Enquanto a gente se distrai com estas CPIs,o caso Isabella,etc... O Congresso continua votando outros assuntos de nosso interesse e a gente nem percebe...
vejam essa:
Fim do 13º já foi aprovado na Câmara
Para conhecimento:
O fim do 13º salário já foi aprovado na Câmara para alteração do art. 618 da CLT.
Já foi aprovado na Câmara e encaminhado para o Senado.
Provavelmente será votado após as eleições, é claro!
A maioria dos deputados federais que estão neste momento tentando aprovar no Senado o Fim do 13º salário, inclusive da Licença Maternidade e Férias (pagas em 10 vezes) são do PFL e PSDB.
As próprias mordomias e as vergonhosas ajudas de custo de todo tipo que recebem, eles não cortam.

Conheçam os Senhores que votaram a favor deste Projeto em todo o Brasil e se por acaso vc tiver votado em algum deles favor repensar seu voto nas próximas eleições, afinal eles são fortes candidatos nas próximas eleições:

01- INOCÊNCIO OLIVEIRA-PFL
02- JOÃO PAULO - PT
03- JOSÉ VICENTE DE PAULA (VICENTINHO)-PT
04- OSVALDO COELHO - PFL
05- ARMANDO MONTEIRO - PMDB
06- SALATIEL CARVALHO - PMDB
07- PEDRO CORRÊA - PPB
08- JOSÉ GENOÍNO - PT
09- SEVERINO CAVALCANTE - PPB
10- CLEMENTINO COELHO - PPS
11- ANTONIO PALOCCI - PT
13- JOSÉ MÚCIO MONTEIRO - PSDB

terça-feira, 13 de maio de 2008

PREVENÇÃO CONTRA DENGUE

sexta-feira, 9 de maio de 2008

PARA FAZER UM POEMA DADAÍSTA


Pegue num jornal.
Pegue numa tesoura.
Escolha no jornal um artigo com o comprimento que pretende dar ao seu poema.
Recorte o artigo.
Em seguida, recorte cuidadosamente as palavras que compõem o artigo e coloque-as num saco.
Agite suavemente.
Depois, retire os recortes uns a seguir aos outros.
Transcreva-os escrupulosamente pela ordem que eles saíram do saco.
O poema parecer-se-á consigo.
E você será um escritor infinitamente original, de uma encantadora sensibilidade, ainda que incompreendido pelas pessoas vulgares.
Tristan Tzara.

O MUNDO PRECISA DE LINHAS, LETRAS, PALAVRAS ,CORES E ATITUDE.
FAÇA O SEU.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Dia das Mães


Então, eu achei que conseguiria mais uma vez atravessar imune essa semana do Dia das mães, a apelação do comércio, dos noticíarios, das pessoas e mais uma vez não deu.
Talvez um dia eu consiga, e como esse blog é pra lavar e quem lava é água, eu estou aqui pra que as águas dos rios e os cantos das lavadeiras, possam aliviar quem sabe um pouco dessa tristeza.


É tão estranho, os bons morrem jovens
Assim parece ser quando me lembro de você
Que acabou indo embora, cedo demais

Eu continuo aqui, com meu trabalho e meus amigos
E me lembro de você em dias assim
dia de chuva, dia de sol
E o que sinto eu não sei dizer

- Vai com os anjos, vai em paz
Era assim todo dia de tarde, a descoberta da amizade
Até a próxima vez, é tão estranho
Os bons morrem antes
Me lembro de você e de tanta gente
Que se foi cedo demais

E cedo demais eu aprendi a ter tudo que sempre quis
Só não aprendi a perder
E eu, que tive um começo feliz
Do resto eu não sei dizer

Lembro das tardes que passamos juntos
Não é sempre, mas eu sei
Que você está bem agora

Só que este ano o verão acabou
Cedo demais.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

‘Não sou um monstro’, afirma pai que cometeu incesto na Áustria


Josef Fritzl, o pai que confessou ter seqüestrado e cometido incesto com a filha durante 24 anos no porão da própria casa na Áustria, afirmou nesta quarta-feira (7) que não é um monstro, em uma mensagem divulgada por seu advogado.
"Não sou um monstro", afirma Fritzl no texto enviado pelo advogado Rudolf Mayer ao jornal Osterreich. "Poderia ter matado todos e não teria acontecido nada, ninguém nunca ficaria sabendo", acrescenta, em referência à filha, Elisabeth, e aos seis filhos que teve com ela, além de um sétimo que faleceu pouco depois do parto.
"Se não fosse por mim, Kerstin não estaria viva", afirma o detento, de 73 anos. A jovem foi internada no hospital em estado crítico no dia 19 de abril e sua entrada no centro médico foi o que permitiu às autoridades desvendar todo o drama.
Na mensagem enviada ao Osterreich, Fritzl não comenta as acusações de que também teria estuprado Kerstin.

Pai sabia que Isabella estava viva ao arremessá-la, diz promotor
Confira os principais pontos da entrevista de Francisco Cembranelli.
Discussão do casal, que desencadeou o crime, foi motivada por ciúme, diz o promotor.


Então, nesta semana que antecede o "Dia das Mães", eu fico aqui me perguntando, como podemos explicar notícias como essas? Atrocidades contra pessoas e crianças indefesas por motivos fúteis.
Já tentei várias explicações lógicas e não consigo chegar a nenhuma conclusão, será que alguém consegue, antes de sentir essa sensação de repúdio e impunidade?