
Morreu!
Logo após o natal morreu,e lembro dela, lembro de minha mãe.
Legou-me o amor a vida, e algo do perfil, surpreendianos sempre ,e nesta época de avaliações e preparativos das festa de fim de ano a noticia: Morre a senhora. Talvez tenha dado a si um presente todo singular: a libertação do sofrimento que a doença lhe causava.
Depois da despedida,senti-me atropelada por um trator, pois nessas horas todas as vãs filosofias se calam, diante da invocação da infância, da adolescência, de nossos conflitos e cumplicidades, e a contagem das vezes que não a visitei, em que não tive paciência, em que não fui a filha que poderia ter sido, embora tenha feito o melhor qe podia.
Mas o auto-retrato é inevitável,como a auto-piedade e um tom meio patético:Nunca mais serei pensada como filha. E afinal quem sou a esta altura?
Do meu pai herdei a retidão e certa melancólia: o olhar sobre o que vem atrás do espelho. Da minha mãe, o otimismo e a alegria. Seu sorriso largo, sua voz que ainda ecoa por toda minha alma. Da remota linhagem deve ter vindo o novelo de fios que tramam alma e imagem, ninguém sabe de quando nem de onde. Não sei se importa, mas o trabalho e a dor, a fantasia, a obstinada procura, alguma sorte, muita esperança, me construíram. Caminhões de falhas e desacertos, sempre a renovação, difícil dissabores fazem parte: maior foi a celebração da vida. Eu não me perdoaria nem ressentimento nem amargura.
Entre o começo e a morte, miragens: Não há muito de mim na personagem que imagina quem me lê e inventa e pendura nessa imaginação, como num cabide, seus próprios fantasmas. Mas uma coisa eu sei: nunca fui tão filha na orfandade. A essa altura da vida, sempre em crescimento, com as lutas pessoais e humanas, as contemplações glórias e derrotas fênix da própria existência como todos somos, me punge a súbita consciência de que nunca mais poderei dizer: Mãe!!!
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