O Retorno do Garagem

Daí, depois de toda aquela comoção que foi a demolição arbitrária do antigo Bar Garagem 27 que ficava ali na ponte da Torre, diz a lenda que Nilson (o feliz proprietário) recebeu uma indenização milionária da prefeitura, passou uma temporada raparigando e procurando um novo espaço para o bar, e de tanto procurar acabou pegando um espaço usadinho mesmo, que ficava ali na frente do Bar Burburinho, o antigo Bar do Matuto, mandou um renomado arquiteto desenhar uma decoração que lembrasse subliminarmente exatamente um barracão construído num terreno invadido à beira do Cabibaribe, executou a reforma em menos de 10 dias e voilá… Habemos Garagem! O zunzunzum zumbia: “Não é o Garagem não… É o ‘Bar do Nilson’… Ele vai reabrir o Garagem em outro canto“. Então, dias depois se ergueu uma placa, provavelmente desenhada por Romero Brito, ao alto dos portões principais do estabelecimento, com os sábios dizeres: “… GARAGEM”. Não havia mais dúvidas, era lá que deveríamos todos nos encontrar após a balada, e ponto final. O Bacurau foi desconfiado avaliar a situação geral da nação Garagem com uma equipe de antropólogos especialistas na boemia recifense, e preparou uma avaliação completa da nova casa especialmente para os Bacuraus. Esperamos que seja de utilidade pública:
1. O Ambiente: O ambiente continua com cara de Garagem. Até o segundo andar de madeira está lá. Alguns quadros de artistas obscuros do cenário contemporâneo na parede, tudo certinho. O ponto negativo fica por conta do calor, que vai ser f… (foda) no verão, pois perdemos aquela movimentação de gente entrando e saindo de um corredor que acabava servindo como cooler do antigo Garagem. As portas agora ficam fechadas pra evitar que se entre com cerveja de fora, mas fique tranquilo que as paredes que dão pra rua são grades abertas que deixam algum ar entrar.
2. O Som: Ah, relaxe… Deu pra perceber que a demolição não quebrou nenhum dos CDs de Nilson. Estão todos lá, até mesmo aquele do Village People. Os mesmos.
3. O Público: Tá enchendo de verdade. O povo também não foi levado na demolição não. Estão todos lá, inclusive o vendedor de amendoim especialista em mulher e Dimitri, o maior arquiteto de caleidoscópios do Garagem da face da terra, que agora está sempre vestido de arlequim.
4. A Cerveja: Piorou, sinto informar. Não tem mais cerva de garrafa. Agora é só latão da Skol a R$3,00 depois da meia-noite (antes é R$2,50). E como o bar agora abre mais cedo, na hora que os vampiros chegam a cerveja já tá nova e quente, perdendo um dos grandes trunfos do antigo Garagem, a cerva gelada de madrugada.
5. O Horário: Mudou. Agora não tá mais precisando chamar o Nilson em casa pra abrir o bar. O novo Garagem derrubou um paradigma, e está abrindo em horário de bar normal, ou pelo menos já tá aberto pelas 22:00hs. Isto influenciou negativamente pra quem buscava no Garagem o último after-hours ever, pois agora, como abre mais cedo, fecha mais cedo, geralmente por volta das 5 da matina, enquanto o Cachaçaria e o sambinha da Rua da Moeda ainda estão fervendo.
6. A Localização: Pelo menos a viagem até o Garagem depois que fecha o Burburinho está uns R$15.00 mais barato pra quem vai de taxi pra não ser pego numa blitz. Quando fecha o Burburinho, é só atravessar a rua. Na verdade, ainda é cedo demais pra saber se as pessoas vão parar de ir porque o bar está na muvuca do Recife Antigo. Uma das coisas interessantes do antigo Garagem é que ficava fora do eixo, e isolava os frequentadores do resto da raça notívaga.
7. A Mulherada: Tá massa, lisa e bêba como sempre.
8. Banheiros: Agora têm porta, mas só tem uma privada. A sorte é que é Recife Antigo, e quem precisa mesmo, consegue se virar.
9. Avaliação Psicológica de Nilson: Viiiiiiixe.
10. Qualidade do Entretenimento: Na última vez em que estive lá, um garoto vestido de Morpheus (Matrix) estava tentando beijar um punk que abria um spacatti na rua, sendo observados por um espanhol, um grande (enorme) vocalista de uma banda de blues, um grande guitarrista que toca no Burburinho, duas modelos bêbadas, um padre, um ator, dois seguranças e um preá (não me pergunte de onde veio o preá). Enfim, quem precisa mesmo de televisão de madrugada?
Avaliação Final da Equipe Antropológica: O Bacurau continua recomendando o Garagem. Mas é claro, o Garagem foi demolido, cara… Então,esse não é o mesmo Garagem, nem nunca vai ser… É tipo Mc Donnald’s… Uma franquia que tem o mesmo jeitão do original, e foi estudado pra ser assim. Tá valendo. Traz boas recordações e junta o mesmo povo, pra ninguém mais se perder, nem precisar ficar procurando o povo perdido no Orkut.


P.S.: Contribuição de Júlia Gondra, Valeu Gata!!!