Receita para lavar roupa suja


Mergulhar a palavra suja em água sanitária depois de dois dias de molho, quarar ao sol do meio dia.
Algumas palavras quando alvejadas ao sol adquirem consistência de certeza.
Por exemplo, a palavra vida.
Existem outras, e a palavra amor é uma delas,
que são muito encardidas pelo uso, o que recomenda aguar e bater insistentemente na pedra, depois enxaguar em água corrente.
São poucas as que resistem a esses cuidados, mas existem aquelas.
Dizem que limão e sal tiram sujeira difícil, mas nada.
Toda tentativa de lavar piedade foi sempre em vão.
Agora nunca vi palavra tão suja como perda.
Perda e morte na medida em que são alvejadas soltam um líquido corrosivo, que atende pelo nome de argura, que é capaz de esvaziar o vigor da língua.
O aconselhado nesse caso é mantê-la sempre de molho em um amaciante de boa qualidade.
Agora, se o que você quer é somente aliviar as palavras do uso diário, pode usar simplesmente sabão em pó e máquina de lavar.
O perigo neste caso é misturar palavras que mancham no contato umas com as outras.
Culpa, por exemplo, a culpa mancha tudo que encontra e deve ser sempre alvejada sozinha.
Outra mistura pouco aconselhada é amizade e desejo,
já que desejo, sendo uma palavra intensa, quase agressiva,
pode o que não é inevitável, esgarçar a força delicada da palavra amizade.
Já a palavra força cai bem em qualquer mistura.
Outro cuidado importante é não lavar demais as palavras sob o risco de perderem o sentido.
A sujeirinha cotidiana quando não é excessiva, produz uma oleosidade que dá vigor aos sons.
Muito importante na arte de lavar palavras é saber reconhecer uma palavra limpa.
Conviva com a palavra durante alguns dias.
Deixe que se misture em seus gestos, que passeie pela expressão dos seus sentidos.
À noite, permita que se deite não a seu lado, mas sobre seu corpo.
Enquanto você dorme, a palavra, plantada em sua carne, prolifera em toda sua possibilidade.
Se puder suportar essa convivência até não mais perceber a presença dela, então você tem uma palavra limpa.
Uma palavra limpa é uma palavra possível.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Dia das Mães


Então, eu achei que conseguiria mais uma vez atravessar imune essa semana do Dia das mães, a apelação do comércio, dos noticíarios, das pessoas e mais uma vez não deu.
Talvez um dia eu consiga, e como esse blog é pra lavar e quem lava é água, eu estou aqui pra que as águas dos rios e os cantos das lavadeiras, possam aliviar quem sabe um pouco dessa tristeza.


É tão estranho, os bons morrem jovens
Assim parece ser quando me lembro de você
Que acabou indo embora, cedo demais

Eu continuo aqui, com meu trabalho e meus amigos
E me lembro de você em dias assim
dia de chuva, dia de sol
E o que sinto eu não sei dizer

- Vai com os anjos, vai em paz
Era assim todo dia de tarde, a descoberta da amizade
Até a próxima vez, é tão estranho
Os bons morrem antes
Me lembro de você e de tanta gente
Que se foi cedo demais

E cedo demais eu aprendi a ter tudo que sempre quis
Só não aprendi a perder
E eu, que tive um começo feliz
Do resto eu não sei dizer

Lembro das tardes que passamos juntos
Não é sempre, mas eu sei
Que você está bem agora

Só que este ano o verão acabou
Cedo demais.

2 comentários:

Martinha. disse...

Menina, me surpeendi! Este Texto é do Legião Urbana? Se for eles ultrapassaram o que eu julgava eles serem em termos de construção poética- métrica. Pois R. Russo tinha um jeito muito informal de escrever- na sua maioria, quase sempre.

e não for deles, de quem é este teto?

Vc o escolheu muito bem. Estou com problemas de presentear minha mãe... prefiro dar presentes surpresas, inesperados. Enfim, é o comércio.

RAFFAELLA disse...

A TAL SAUDADE... ESSA IMPLACÁVEL, NÃO SUCUMBE NUNCA, SUBVERTE, DEPRECIA, AFLIGE, DANADA INGRATA, FAZES DE MIM UM SER MISERÁVEL, PORQUE A TI NÃO RESISTO....
POEMA PRA CRIS...
(ESTE É NOVO, E É SEU!!!!)